Entendendo a Depressão

21:21




Tudo parece uma bagunça. Sua cabeça não consegue organizar nada sistematicamente. Seu quarto vive em constante bagunça. Você deixa de sentir prazer com o que gosta. Você se entrega a pecados horríveis e deixa-se ser levada por eles, pois, mesmo inconscientemente, você acha que aquilo preencherá o vazio.

Foi assim que começou comigo.

Essa série de posts não serão sobre um testemunho de superação de vida. De modo contrário, as experiências compartilhadas aqui são de uma jovem que luta contra isso há 5 anos, e que até hoje, nos dias sombrios, não consegue se levantar da cama. Não porque não tem força de vontade, mas porque lhe faltam forças físicas.

Por isso, rogo ao Senhor misericórdia para escrever sobre tal coisa a vocês.

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Eu já estava congregando na Presbiteriana há 2 anos. Eu já conhecia um pouquinho da teologia reformada. Porém, mesmo assim, aos meus 15 anos, no “auge” dos meus estudos sobre as doutrinas da graça, eu comecei a questionar o Senhor. Irônico, eu sei.

Eu venho de uma família destruída. Meus pais se divorciaram quando eu era ainda criança pois meu pai batia na minha mãe. Muito. Inclusive, chegou a ser preso por isso. E como se não bastasse, um amigo próximo da família abusou de mim na minha pré-adolescência.

Exatamente do jeito que estão pensando.

Para uma moça de 15 anos entender tudo isso foi uma loucura.

Os sentimentos novos que estavam surgindo em mim me deixaram confusa. A verdade é que – por querer preencher um vazio gigante que eu sentia por causa da ausência de um pai, ou de uma inocência defraudada– eu criei ídolos. Estes me decepcionaram e tornaram aquele vazio ainda maior. Desse modo, eu comecei a questionar a bondade do Senhor.

Por mais que a minha boca falasse “Deus é bom”, meus pensamentos e atitudes falavam o contrário.

É dessa forma que uma pessoa depressiva sente-se. Não é algo que se entenda. Simplesmente começamos a sentir tanto a ponto de não sentir nada. E nada mais importa no mundo, só nós mesmos. As noites seguidas sem dormir, as tremedeiras subitas durante a noite, nos tiram a esperança de que há um Deus que nos ouve nesses momentos.

Eu sei, eu sei… Quando estamos "sóbrios" e de cabeça fria parece simples buscar o Senhor nessas horas. Contudo, quando se está desesperado, você não enxerga nem sequer um sentido na existência de um Deus.

Ao me analisar em tempos de crise, e ao ouvir relatos de pastores e psicólogos, cheguei na seguinte conclusão: a depressão gera em nós incredulidade.

Muita gente, ao me ouvir dizer isso, acha que eu não estou tendo empatia com os que sofrem desse mal. Mas esquecem-se que eu sofro com isso, e sei do que falo. Eu sei que gostamos de nos vitimizar e de dar margem para que as pessoas nos notem e sintam pena da nossa existência. Eu sei o que eu sinto e o que eu já senti um dia. E, por mais difícil que seja de admitir, nos tornamos ingratos e tiramos o Senhor do centro do nosso coração.

A oração se torna uma das coisas mais difíceis, pois nos questionamos: “Será que algo me escuta? Não vou orar!”. Ou ainda: “Mas eu estou sentindo isso por algo muito pequeno, eu consigo resolver sozinha. Isso é apenas um probleminha”. Mas advinha? Não conseguimos vencer esse probleminha, e esse probleminha se torna um problemão. E quando olhamos, estamos afundados em nossos pensamentos e extremamente distantes do Senhor.

Em certa ocasião, conversando pela primeira vez sobre isso com o meu pastor enquanto ele me levava em casa, eu contei das minhas dificuldades e ele falou coisas que desde então nunca mais saíram da minha cabeça.

“Filha, não é porque você acha que os seus problemas são pequenos e que sua mente está fazendo uma tempestade num copo d’água que o Senhor acha isso. Ele se importa com cada detalhe seu.”


Minha incredulidade me cegou para o lindo fato de que somos filhos de um Deus que nos ama inteiramente. Eu esqueci que faço parte de da noiva de Cristo, e que ele zela por sua igreja, nos mínimos detalhes.

Uma das coisas que nos ajuda a entender a depressão (e assim lutar contra ela) é entender quem somos diante do Senhor. 


Precisamos também reconhecer os pecados que a envolvem. Precisamos parar de jogar a sujeira pra debaixo do tapete e fingir que a tristeza da depressão não é algo pecaminoso, porque é sim! Ofendemos o Senhor agindo com incrédulos. EU SEI QUE É DIFÍCIL, EU SEI! Mas precisamos parar de nos colocar em pedestais como coitadinhos e passar a ter confiança de que Senhor cuidará de nós.

No meu caso, eu precisei parar de olhar para as situações como algo ruim. Precisei olhar para o que aconteceu comigo na infância e ver que aquilo tinha um propósito, mesmo que desconhecido. E que tudo o que eu passei e que eu ainda passarei, está cooperando para o meu bem.

Ainda estou na luta, mas creio que o Senhor me sustém, e sei que por meio de Cristo Jesus eu posso ser curada disso. Também sei que mesmo que eu tenha que lutar contra isso durante toda a minha vida, Deus não olha para os meus problemas como coisas pequenas, ele sempre agiu e agirá com misericórdia para comigo.

Que o Senhor nos abençoe e nos auxilie nessa luta.

Fiquem na paz de Cristo.


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1 comentários

  1. Uuau... Tive depressão a 1 ano atrás e passei por esse processo acho que com idas e vindas e desde a separação dos meus pais.... Confesso que ela me busca as vezes, mas oro e peço tanta força a Deus que isso se esvai, seu texto e testemunho pode curar muitas pessoas Joyce.... Que o pai continue dando força a você e a todos... beijos a Paz!

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